domingo, 16 de setembro de 2007

Sangue de Maria

Ele sempre gostou daquele drink: gim com campari... E era isso que ele bebia enquanto via a banda de seus amigos tocarem aquele blues arrastado, cheio de paixão e melancolia. Seu velho amigo entre seus dedos, queimando no ar, castigando os pulmões, sendo sua única companhia naquela noite de junho. Pensou na vida, nas pessoas que ficaram pra trás, nas que passaram por sua vida. A bebida começava a fazer efeito, já era a quarta dose, a lágrima rolava em sua face. A canção agora lembrava situações, muitas boas, outras com final nem sempre feliz. O cara do bar trouxe mais uma dose. Ele a viu chegando, não estava sozinha... Não importava com quem! Ele puxou mais uma vez a fumaça pra dentro, tomou um gole, rangeu os dentes... Tomou coragem, outro gole!!! Pensou em levantar, ir conversar. As pernas não obedeciam. O cérebro ainda era mais esperto que o coração, duro pra se proteger, mole pra se meter em encrencas... Só ele e o garçom entendiam a situação. Ela quase o viu, por um relance. Parecia que na mesa do canto, a mesma que tantas vezes riram e se embriagaram. Não podia ser, ela ouvira falar que ele sofreu um acidente fatal de carro. Explodiu no meio de uma plantação de cevada ou aveia, ninguém nunca soube ao certo. O garçom apagou a luz sobre ele. Nem o nome dele sabia, nunca falara mais do que o preço da dose pra ele. Naquela noite era seu melhor amigo, soube interpretar a necessidade do momento. Nem perguntou. Trouxe outra dose, mais um maço de seu cigarro preferido, aquele mesmo que estava aos poucos derretendo seus pulmões... A canção continuou. A noite ainda começava, mas para os outros, não pra ele.

Preceitos básicos e avisos adicionais a jovens escroques

Não tente roubar uma vaca maior que sua caçamba.

Não mostre seu rabo pra Polícia Rodoviária.

Negociatas longas com grana curta é prejuízo na certa.

Não confunda o Evangelho com a Igreja.

Nunca dedure familiares ou amigos.

Evite morar em qualquer lugar onde não dê pra mijar da porta da frente.

Só porque é simples não significa que é fácil.

Não deixe seu olho grande preencher cheques que sua barriga vazia não possa bancar.

Se você não a quer, não a provoque.

Não estacione entre dois cachorrões jogando sujo.

Qualquer um amassa tomates; o foda é fazer o molho.

Nunca se é pobre demais para deixar de prestar atenção.

Não remoa por aí suas paranóias.

Nunca durma com uma mulher que considere isso um favor.

Se for atingido por um valentão, dê-lhe a outra face.

Se rolar de novo, atire no filho da puta.

Manter é sempre duas vezes mais difícil do que conseguir.

Nunca atravesse uma cidade pequena a 120 por hora com a filhota do xerife nua na garupa.

Nunca registre o preto no branco.Se você não está confuso então não tá entendendo nada.

Amar é sempre mais difícil do que parece.



(Jim Dodge)
A noite não estava fria, só um vento de fim de inverno soprava, e ele na janela fumando um cigarro, tentando achar o sono perdido no meio da fumaça. Tinha tomado chá preto, leite com café, a comida não descia, não cabia no estômago nada mais que a tristeza que inundava o coração. E transbordava pro corpo todo. Um cachorro correndo de um carro na avenida, mancando de uma colisão não evitada, outros correndo em sua direção. Ele se sentia aquele cachorro: aleijado, rejeitado, abandonado ao frio e à sua própria sorte. Sem dono, sem comida, sem casa, sem teto, no vento. Só que esse cachorro não fumava dois maços por dia. Duas da manhã, o sono não vinha, a cabeça pesava mais que o habitual, um turbilhão de idéias, pensamentos, mirabolantes que só, invadiam sua cabeça. Fazer como o cachorro, correr sem rumo, aceitar a dura realidade, sentar na calçada, esperar melhor sorte, alguém jogando uma salsicha pra ele, um afago na cabeça, um chute no pêlo encardido. Uma música boa ao fundo, uma guitarra folk arranhando acordes bonitos, melhor que um hardcore, mais doce que pudim de leite condensado... Um bando de jovens falando que viver a vida é correr e arriscar, “be fast”, lembrava Led... E o cachorro?! E a velocidade?! E o sono? Chegando de mansinho, sorrateiro, tirando o nexo das idéias, embaralhando o olhar, o propósito firme, o meio complicado, o fim longínquo... Organizar o pensamento, pensar objetivamente, tentar de novo, e de novo, até conseguir, ele não iria desistir nunca, era um guerreiro, não desiste porque é teimoso, sabia que era inevitável que iria conseguir, talvez demorasse mais que agüentava, mas iria..

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Ela falou alguma coisa sobre ir embora. Depois falou que precisava tirar o carpete da sala, dos quartos. Disse que precisa de mais espaço pra respirar. Eu tava na cozinha olhando pro nada, copo de café na mão, tentando entender como as coisas acontecem, como a felicidade surge e te leva num turbilhão. Lá da cozinha eu só consegui dizer um “como você achar melhor”. Imediatamente me arrependi de ter dito isso.

Rubens K. - Terminal Guadalupe

segunda-feira, 3 de setembro de 2007


Esse blog é de um grande irmão nosso em Maringá, o fotógrafo Fábio Dias. Esse é um cara que sempre esteve acompanhando as bandas de rock, às vezes quase que desapercebido, congelando o momento, buscando os cliques mais inusitados. E tem feito um trabalho fantástico em relação à nossa cidade. Só uma palhinha do que esse cara é capaz...

Leminskes, uma banda de amigos


Leminskes tem a mesma história de milhares de bandas que pipocam em garagens do mundo todo: amigos que se gostam e que têm no rock um estilo de vida. Leminskes não é nada além disso: amigos querendo se divertir nos finais de semana. Nenhuma revolução, promessa ou salvação para o rock. Aliás, não há salvação para o rock. É o rock quem salva e
se salva.

O rock é e sempre será a trilha sonora escolhida para ver a vida
correr, enquanto o trabalho consome mas alimenta, no momento em os amigos chegam e partem, no calor em que as paixões nascem e as vezes morrem com a gente. Mas não é só no rock que se encontram as palavras apropriadas para expressar esse turbilhão de sentimentos. As palavras também estão em movimento e carregadas de poesia nas páginas de inúmeros livros que nos inundam de emoções. E foi na combinação da distorção do som com a força das palavras que Leminskes buscou a sua inspiração. Uma clara referência e uma honesta homenagem ao poeta paranaense
Paulo Leminski, que tão bem soube brincar com os sons e com as palavras.

Formada em Maringá-PR e reunida em 2007, Leminskes conta com a voz de Daniela Corazza, com a guitarra de Rafael Souza (Sex Hansen, The Guavas e A Inimitável Fábrica de Jipes), com o baixo de Clériston "Gótico" Teixeira (Os Prolétas, The Jhones Project) e com a bateria de Igor Grande. Para o final de 2007, o primeiro CD da banda, com o nome provisório de “Canções Despedaçadas para Juntar os Cacos” deve ser lançado. A banda faz sua estréia no próximo dia 25/08, junto com o Terminal Guadalupe, uma das bandas mais bacanas e inteligentes da atualidade.