ela dirige para a vaga no estacionamento enquanto
eu me escoro contra o pára-choque de meu carro.
ela está bêbada e seus olhos estão molhados de lágrimas:
“seu filho da puta, você trepou comigo quando não
estava a fim. Disse pra eu continuar ligando,
disse pra eu me mudar pra perto da cidade,
e então me disse pra deixar você em paz.”
tudo muito dramático e eu gostando daquilo.
“claro, bem, o que você quer?”
“quero falar com você. Quero ir pra sua
casa e falar com você...”
“estou com alguém agora. Ela foi buscar um sanduíche.”
“quero falar com você...demora um pouco pra superar as coisas. Preciso de mais tempo.”
“claro. Espere até que ela saia. Não somos desumanos. Podemos tomar um drinque juntos.”
“merda” ela disse, “oh, merda!”
pulou dentro do carro e arrancou.
a outra apareceu: “quem era aquela?”
“uma ex-amiga.”
agora ela se foi e estou aqui sentado e bêbado
e meus olhos parecem molhados de lágrimas.
está tudo muito silencioso e sinto como se um arpão
estivesse atravessado no meio das minhas tripas.
caminho até o banheiro e vomito.
piedade, eu penso. Será que a raça humana não sabe nada
sobre piedade?
(Charles Bukowski)
Um comentário:
adorei esse texto, nunca tinha visto
achei mais q interessante.
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