Sempre gostei deste tempo frio, essas noites cor de laranja, ou como diz minha filha, com cara de chuva de Fanta... Essas luzes amarelas me fascinam, a avenida meio com brumas, aquele ar gélido e a noite com cara de triste... Lembro que quando estava deitado, longe daqui, minha maior saudade eram destas noites, tão só como um fósforo na caixa, esperando pra pegar fogo, mas sem um mínimo de movimento, estático. E o mais engraçado é que quando consegui isso de volta, essas noites frias e chatas, queria o inverso de volta. Mas aí já tinha ido pro brejo. É tão fácil desistir de tudo pra tentar mudar, voltar atrás. Aí quando a ente consegue mudar a vida, dá a vontade de não querer mais nada que faça sentido. Um amigo meu uma vez falou que gostava se sentir como uma ervilha verde, roliça, apertada dentro da lata. Eu prefiro a idéia do fósforo! Ta numa caixa também, às vezes tão sozinho ali que ninguém nem quer pegar naquela caixa. Parece que o fato de estar sozinho vira uma espécie de alarme: nesta caixa só tem um, pega uma nova e cheia! O que raios as pessoas tem contra a caixa com o ultimo fósforo??? Tão útil, funcionando ainda, pronto pra torrar tudo! Mas não, tem que deixar aquele fósforo pra trás, se duvidar joga a caixa com ele fora pra trocar por uma cheia... E pásmen, eu acho que sempre me senti como aquele fósforo, sabia que estava lá, na noite fria, amarela, cheia de neblina, e escondido na caixa, ahhhh, a caixa. Na certa, perdida no fundo de uma jaqueta, ou caída atrás do fogão, ou na ultima gaveta, atrás de um monte de guardanapos amarelados e encardidos.... Mas olha só que coisa mais louca: quando todos fósforos acabam, o isqueiro alguém levou por mero descuido, o fogão não funciona o acendedor elétrico, adivinha quem vai ser procurado...
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