sexta-feira, 11 de maio de 2007

And born to be wild...

O sol forte batia no pára-brisa e fazia um espectro nostálgico àquela viagem... O velho carro respondia bem às pisadas no acelerador. A cada curva que ele fazia o pé apertava um pouco mais... A estrada o chamava pra aventura. Sozinho, como sempre foi. O rádio tocava uma música que o deixava mais excitado com tudo aquilo. Wilco... Em volta só campos, alguns tão bucólicos que beirava a nostalgia do momento, outros tão belos que o levavam a pensamentos longínquos. Tão longe que ele nem sequer percebeu o caminhão atravessado na pista. Aquele instante que antecedeu durou uma década toda. Ele via a velha amada próxima, andando de mãos dadas num bosque de velhas árvores. Viu a filha correndo à sua volta, brincando na grama, quase caindo no lago. Viu os amigos na semana passada numa festa, cantando e bebendo, vivendo o instante... Viu o momento do adeus, a briga, a raiva... Viu sua vida num segundo, quis parar o momento, voltar atrás. E voltou a si. “Se eu soubesse que terminaria assim, teria acelerado mais”... E assim o fez! Pisou mais fundo que pode, o velho carro atendeu ao pedido. Sempre esteve perto, junto, nunca se negou, e não era naquele momento que iria abandoná-lo... O estrondo foi ensurdecedor, a bola de fogo subia aos céus rapidamente. Tomou conta de todo terreno. O álcool que o caminhão transportava se espalhava rápido, consumindo tudo a sua volta numa velocidade espantosa. O espetáculo pôde ser visto os quilômetros, os bombeiros demoravam a chegar.

Um camponês via tudo embasbacado, nunca tinha presenciado algo tão belo, tão trágico, uma visão que jamais sairia de sua memória... Ele só não conseguia entender o porquê daquele jovem no velho Maverick sorria a apenas 10 metros da colisão fatal. E um sorriso angelical, de quem sabia o que fazia, que tudo ia mudar, que o sofrimento agora dava lugar a uma esperança maior, de paz, de silêncio, de retidão... E sorriu sim, o sorriso que por tanto tempo ele guardou fundo na alma, agora o coração falava “pare”, mas ele sorria e acelerava mais... E o velho senhor corria de encontro à tragédia, tentava ver algo em meio a fumaça, uma fisionomia, alguém... “somebody help!” ele gritava pro nada. Foi então que o inimaginável aconteceu: o velho Marevick não colidiu diretamente no caminhão!!! Estava sim tombado, amassado, mas vivo como seu ocupante. Por uma fração de segundo ele desviou da trajetória, resvalou na cabine do caminhão, girou no ar e parou capotado exatamente no meio da plantação de aveia. O que provocou a explosão foi o outro veículo que vinha da direção oposta. Lá estava o jovem, sangrando, agonizando, buscando ar no pulmão perfurado e encharcado de sangue, mas sorrindo, tentando acender o cigarro com a mão trêmula e ensangüentada. “Tem fogo aí?” Apagou...

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