sexta-feira, 11 de maio de 2007

Sangue de Maria

Ele sempre gostou daquele drink: gim com campari... E era isso que ele bebia enquanto via a banda de seus amigos tocarem aquele blues arrastado, cheio de paixão e melancolia. Seu velho amigo entre seus dedos, queimando no ar, castigando os pulmões, sendo sua única companhia naquela noite de junho. Pensou na vida, nas pessoas que ficaram pra trás, nas que passaram por sua vida. A bebida começava a fazer efeito, já era a quarta dose, a lágrima rolava em sua face. A canção agora lembrava situações, muitas boas, outras com final nem sempre feliz. O cara do bar trouxe mais uma dose. Ele a viu chegando, não estava sozinha... Não importava com quem! Ele puxou mais uma vez a fumaça pra dentro, tomou um gole, rangeu os dentes... Tomou coragem, outro gole!!! Pensou em levantar, ir conversar. As pernas não obedeciam. O cérebro ainda era mais esperto que o coração, duro pra se proteger, mole pra se meter em encrencas... Só ele e o garçom entendiam a situação. Ela quase o viu, por um relance. Parecia que na mesa do canto, a mesma que tantas vezes riram e se embriagaram. Não podia ser, ela ouvira falar que ele sofreu um acidente fatal de carro. Explodiu no meio de uma plantação de cevada ou aveia, ninguém nunca soube ao certo. O garçom apagou a luz sobre ele. Nem o nome dele sabia, nunca falara mais do que o preço da dose pra ele. Naquela noite era seu melhor amigo, soube interpretar a necessidade do momento. Nem perguntou. Trouxe outra dose, mais um maço de seu cigarro preferido, aquele mesmo que estava aos poucos derretendo seus pulmões... A canção continuou. A noite ainda começava, mas para os outros, não pra ele.

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