A estrada longa dizia tanto... A cada curva, a cada placa, a velha amiga chamava mais e mais... E o caminhão era o tradutor da mensagem... Ele o receptor. O caminhão o meio... Atrás dele somente as toras que outrora foram vida, agora viravam papel, um bloquinho de rascunho, uma carta de amor talvez. Elas que floresceram, viram chuva, frio, sol, canto de pássaros. Que foram confidentes de algum camponês que amava a esposa e os três filhos... Agora estavam atrás dele. Virando papel... A música country de Johnny Cash soando como um sonho pra ele, o radio baixinho, o px chamando qualquer um pro papo. A neblina deixando a noite mais linda, mais perigosa... E o único perigo naquela noite seria morrer sem amar. Passar aquelas frias horas com a mente vazia, com o coração duro. Não era ele agora, não mesmo. No painel do caminhão a foto da namorada, seu anjo, seu refúgio, seu porto seguro. A certeza de um amor que então ia se concretizando aos pouquinhos, sem pressa, com ternura, com paciência. Na Route 66, o tapete preto que cortava seu estranho país, ás vezes um motel, um café, um pedaço de torta de blueberry, um pedaço de galinha frita com molho barbecue. Parecia que June Carter cantava sentada ao seu lado então, sua linda voz aveludada amolecia o coração daquele menino de barbas e camisa xadrez vermelha.
Uma parada pra verificar os pneus, uma água no rosto pra espantar o sono, um cigarro pra esquentar os pulmões, uma olhada pra lua. Deu vontade de ficar ali olhando o céu, contando as estrelas, igual quando ele ficava com a filha deitado no chão da varanda... Contavam uma a uma, inventavam bichinhos, casas, ursos... A estrada chamou, o px passou informação de problemas à frente, óleo na pista... Cuidado redobrado... Mas a canção o fez esquecer da preocupação, vagar o olhar no fim da estrada, sem atentar que logo a frente estava a tênue fronteira entre viver e tentar tudo de novo...
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